Márcia Reis é professora de Língua portuguesa e Literatura. Escreve poesia para o site Recanto das Letras.
A palavra erótico vem do grego erotikós, e tem o significado de relativo ao amor, inspirado pelo amor. Às vezes há uma confusão de sentidos entre erótico e pornográfico; este está relacionado assuntos obscenos, de cunho sexual .
Resumindo, o erotismo seduz e incita o imaginário; a pornografia choca, expõe o íntimo do desejo oculto.
Na literatura, diversos autores já exploraram o termo erótico dentro das construções poéticas. Em todos os estilos literários, de alguma forma, o erotismo se faz presente.
Neste artigo citarei cinco poemas de cunho erótico. Num próximo abordarei obras narrativas com essa temática .
O primeiro poema " O elixir do pajé ", de Bernardo Guimarães, autor da obra "Escrava Isura", causou muita polêmica na época, século XIX. O texto tratava de um elixir para curar brochadas da época. Transcrevo abaixo um pequeno trecho:
"Eu te adoro, água divina
Santo elixir da tesão
eu te dou meu coração
eu te entrego a minha porra!
Faze que ela, sempre tesa,
E em tesão sempre crescendo
Sem cessar viva fodendo
até que fodendo morra"!
" Do Desejo I", de Hilda Hilst. A autora confundiu os limites entre erótico e pornográfico, quando escreveu a polêmica trilogia pornô na década de 1990, tratando de temas como a prostituição infantil – “O Caderno Rosa de Lori Lamby” –, e incesto – “Cartas de um Sedutor”.
"Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada".
"Mademoiselle Furta-Cor, de Armando Freitas Filho. O poema faz parte da série “Mademoiselle Furta-Cor” (1977), que narra uma longa experiência sexual.
"Eu conheço o seu começo:
ponto e novelo,
meada de mel e langor
de lentos elos
que a minha língua lambe
no calor despido,
no meio das suas pernas:
anéis de cabelos,
anelos e nós se desmancham
em nada ou nódoa
por todo o lençol do corpo
nu e amarrotado:
nós aqui somos todos laços
e nos rasgamos
devagar – poro por poro;
rumor de sedas
ou de uma pele toda feita
de suor e suspiro:
eu soluço a cada susto seu
que nos dissolve".
O poema "Lugar", de Simone Teodoro. Essa poeta, contemporânea, de Belo Horizonte, é autora de dois livros – “Distraídas Astronautas” (2014) e “Movimento em Falso” (2016), ambos pela editora Patuá, de São Paulo.
"Aqui
onde foi abolido o hímen
úmido hífen
Aqui
onde a língua é dinâmica
e dedos são talheres
Aqui
onde o grelo
destrona o falo
É rijo
É lindo
É talo"
Para finalizar, cito um trecho do poema "Particularidades", de Gilka Machado. Ela foi uma importante poeta brasileira, considerada a primeira voz feminina a expressar-se eroticamente em versos.
Muitas vezes, a sós, eu me analiso e estudo,
os meus gostos crimino e busco, em vão, torcê-los;
é incrível a paixão que me absorve por tudo
quanto é sedoso, suave ao tato: a coma… os pelos…
Amo as noites de luar porque são de veludo,
delicio-me quando, acaso, sinto, pelos
meus frágeis membros, sobre o meu corpo desnudo
em carícias sutis, rolarem-me os cabelos.
Pela fria estação, que aos mais seres eriça,
andam-me pelo corpo espasmos repetidos,
às luvas de camurça, aos boás, à pelica…
O meu tato se estende a todos os sentidos;
sou toda languidez, sonolência, preguiça,
se me quedo a fitar tapetes estendidos.
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